Frase da Semana

A felicidade é o fim último e perfeito a que tende toda ação humana.” São Tomás de Aquino

#15 – Por que minha depressão não melhora?

 

Depressão não é uma invenção moderna, nem é um privilégio de pessoas com vida boa o suficiente para se darem ao luxo de se sentir mal. Da mesma forma, depressão não é indício de fraqueza ou algo inevitável diante de problemas grandes das nossas vidas. Ainda, não é uma imposição da sociedade sobre nós.

Como psiquiatra, eu vou trazer aqui a definição da própria psiquiatria: depressão como um transtorno mental. Isso significa dizer que depressão inclui um conjunto de manifestações mentais e físicas (do organismo humano) que profissionais de saúde conseguem reconhecer de maneira clara e que incluem prejuízos na performance cotidiana desse indivíduo. Além disso, diante dessa identificação da depressão e muitas das características dela e do contexto em que surge, conseguimos estimar como esse problema de saúde evoluirá ao longo do tempo. Em outras palavras, depressão não surge de maneira incompreensível; surge, sim, de uma relação complexa entre características pessoais (inclusive genéticas e de personalidade) e do ambiente (passado ou atual).

Isso tudo é absolutamente fundamental para que nós profissionais de saúde possamos oferecer aos nossos pacientes tratamentos eficazes e seguros para seus sintomas e devolver a eles a vida que perderam. Isso, claro, é feito com uma enorme participação dos pacientes e de seus familiares.

Infelizmente muitos pacientes com depressão, mesmo diante de um bom tratamento, não melhoram, melhoram pouco ou voltam a piorar depois de algum tempo. E por quê? Segue 12 razões das mais importantes:

  1. Aderência ruim às medicações e/ou à psicoterapia. Usar a medicação intermitentemente ou pará-la quando se sente melhor não colabora com o tratamento. Não levar a psicoterapia a sério, tanto em frequência quanto em presença efetiva nas sessões é pouco compatível com uma depressão bem tratada.

  2. Você está com dificuldades para lidar com os desafios do seu dia a dia. Gerenciar estresse é fundamental, principalmente quando você tem um problema grande, difícil e complexo. E o mais importante: é possível aprender a gerenciar estresse.

  3. Você tem na sua vida um problema que não será solucionado. Eu tenho certeza de que o otimismo é importante, mas existem sim problemas que não têm solução. Existem perdas que não serão resolvidas, por exemplo. Aceitação radical disso tudo é fundamental para que possamos viver decentemente na presença desse sofrimento.

  4. Você tem uma relação pouco saudável com as suas próprias emoções e pensamentos. Os seres humanos estabelecem uma relação pessoal e íntima com tudo que acontece dentro das suas mentes. 

  5. Você deixou de fazer atividades importantes pra você. Isso pode ter acontecido por forças maiores, como desemprego, ou porque você achou que não valia mais a pena ou não era mais necessário. Nós precisamos de lazer e de atividades gratificantes. Precisamos ter no nosso cotidiano atividades prazerosas e que nos tragam sensação de maestria, isto é, de habilidade sobre o que fazemos. 

  6. Você se distanciou (ou foi distanciado) de pessoas que eram importantes pra você. Nós precisamos de uma rede de suporte social sólida e de sensação de pertencimento a grupos de pessoas para a nossa identidade.

  7. Você tem dificuldades em resolver problemas, mesmo aqueles absolutamente dentro do seu conhecimento e habilidade. Resolução de problemas é uma habilidade que pode ser aprendida e torna a nossa vida muito mais fluida e leve.

  8. Você tem dificuldade em lidar com relações interpessoais desafiadoras. Talvez o mais amplo e diversificado item desta lista, este tema inclui: a) conseguir ser mais assertivo nas relações, assim como b) impor limites nelas, c) encerrá-las quando são inviáveis e d) aprender a extrair emoções positivas de interações sociais cotidianas.

  9. Há traumas não tratados ou lutos não resolvidos. Não me leve a mal: não devemos tentar esquecer o passado ou ignorar os eventos difíceis da nossa vida. Isso seria impossível. Entretanto, precisamos estar abertos a construir para nós mesmos uma vida de qualidade mesmo diante de um passado muito sofrido.

  10. A sua saúde física está ruim. Isso inclui tratar dor crônica, se alimentar bem, aprender a dormir bem, fazer atividade física, tratar doenças físicas e respeitar os limites do seu corpo.

  11. Abuso de substâncias, como álcool, maconha e cocaína. Em geral, quando há uma “queda de braço” entre drogas e o tratamento de transtornos mentais, as drogas em geral vencem (e você perde…).

  12. Seu diagnóstico não é (só) depressão, mas sim transtorno bipolar (e não depressão), ou transtornos de personalidade (que, em geral, vêm junto com depressão). 

 

Em resumo, a depressão é uma batalha complexa que, infelizmente, nem sempre melhora facilmente. No entanto, é essencial lembrar que a esperança nunca deve ser perdida. A ciência médica e a psiquiatria continuam a evoluir, oferecendo novas abordagens e tratamentos. Além disso, a empatia, o apoio e a compreensão da comunidade podem desempenhar um papel crucial na recuperação.

 

Muito Além da Saúde Mental

 

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Indicação da Semana

 

A indicação da semana é o livro “Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz” os autores Francesc Miralles e Héctor García vão até Okinawa, a ilha japonesa de população centenária, e reúnem pela primeira vez em livro os hábitos e rotinas que mantém em dia a saúde da mente, do corpo e do espírito daquele povo. Um guia com informações claras e sucintas, além de listas, tabelas e ilustrações que colocam em suas mãos as ferramentas certas para entender e encontrar seu ikigai.

 

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