“Todo o segredo da arte é talvez saber ordenar as emoções desordenadas, mas ordená-las de tal modo que se faça sentir ainda melhor a desordem.” Charles Ramuz
Hoje vou falar mais para vocês sobre emoções. Espero convencê-los de que não dá pra vivermos bem sem entendermos ao menos um pouco sobre este tema.
Frequentemente as pessoas procuram tratamento para se livrar de emoções desconfortáveis como ansiedade, medo, raiva, tristeza ou culpa.
Essas emoções podem ocorrer em pessoas com transtornos de ansiedade (por exemplo, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social ou transtorno de ansiedade generalizada), transtornos depressivos, transtorno de estresse pós-traumático, dentre outros.
E já faz parte do meu trabalho fornecer a essas pessoas uma notícia que nem sempre é bem recebida: inevitavelmente, afastar as emoções não funciona muito bem. Fugir das emoções é incompatível com a fisiologia das emoções.
Quanto mais energia você gasta tentando suprimir ou evitá-las, menos você pode se concentrar em áreas da sua vida que são importantes para você e mais intensas e dominadoras as emoções se tornam.
Ainda, tipicamente as pessoas desenvolvem estratégias de esquiva das emoções, como evitar situações em que acontecem, por exemplo.
Essa “solução” promove um alívio rápido, porém temporário, seguido pelo retorno da emoção com mais intensidade. Por causa disso tudo, tentar se afastar das emoções funciona como uma estratégia amplificadora das emoções negativas, culminando com a presença delas em intensidade, duração e pervasividade suficientes para gerar o diagnóstico de um transtorno mental.
Uma primeira grande ajuda para lidar com essas emoções intensas e sofridas é entender o que são emoções e porque elas servem.
Para ajudar a responder essa pergunta, faça o seguinte: imagine como seria se não tivéssemos emoções e responda às duas perguntas a seguir:
– Como saberíamos se nossas vidas estivessem subitamente em perigo sem uma sensação de medo?
– Como saberíamos nos defender sem um sentimento de raiva?
Mesmo que essas emoções possam parecer “ruins” ou “perigosas”, elas realmente nos dão informações importantes sobre nossa situação. Elas também nos motivam a agir de forma a nos manter seguros ou nos ajudar a avançar com nossos objetivos.
Em outras palavras, emoções são sinalizações para nós. Precisamos dessas informações para navegar de maneira sensata e precisa pelas nossas vidas. Emoções geram um pano de fundo para toda a nossa experiência. É como se fosse a “trilha sonora” da nossa vida.
Muito importante: nós não controlamos as nossas emoções.
Emoções fazem parte da nossa natureza e há circuitos (uma série de regiões cerebrais que trabalham juntas) responsáveis pela sua produção e processamento. O que devemos fazer é aprender a lidar com elas: precisamos aprender a ouvi-las, refletir sobre elas e, então, agir.
Por exemplo, o medo nos sinaliza perigo e podemos assim refletir extensivamente sobre esse perigo. A tristeza nos sinaliza perda e precisamos refletir sobre essa perda para processar o luto e então nos organizar.
Em outras palavras, o que podemos fazer é aprender a processar nossas emoções de maneira saudável!
E em geral fazemos isso? Não, infelizmente.
Em geral, a maneira como as pessoas respondem às próprias emoções envolve uma série de estratégias maladaptativas para reduzir a intensidade e a duração de emoções negativas. Mas essas estratégias são um tema para uma próxima newsletter.
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