“Evite sentimentos corrosivos como o rancor, a raiva e as mágoas, que nos tiram noites de sono e em nada afetam as pessoas responsáveis por causá-los.” Friedrich Nietzsche
Na última semana eu falei sobre insônia e como este problema “comum” está prejudicando a vida e a rotina de muitas pessoas. Se você não acompanhou a primeira parte da newsletter, recomendo que acesse o meu Blog para realizar a leitura.
Mas antes de abordar o tratamento da insônia e construção de hábitos mais saudáveis em relação a isso, preciso te falar mais sobre como este sistema funciona de fato. Como o nosso sono é regulado?
O nosso cérebro possui um sistema muito bem regulado que gera um ciclo de sono alternado com vigília (estado de alerta). Esse sistema é o responsável por gerar uma dominância da vigília por cerca de 16 horas a cada dia (isto é, ⅔ do dia), seguido por sono por cerca de 8 horas (restante terço do dia).
A primeira informação que precisamos saber é: “quanto sono eu preciso em cada noite?”. Essa pergunta deve ter uma resposta necessariamente individualizada porque não há uma quantidade de sono precisa que sirva a todos os seres humanos, ainda que a maior parte dos adultos precise de 7 a 9 horas por noite.
Essa característica pessoal tem uma grande determinação genética e não é algo que possa ser modificado por treinamento ou força de vontade, ainda que essa necessidade varie ao longo da vida (a necessidade de sono reduz lentamente a partir dos 30 anos).
Muitas pessoas acreditam que precisam necessariamente dormir toda noite, por exemplo 8 horas de sono. Em geral, não é bem assim e ter essa ideia fixa pode inclusive contribuir negativamente para a cronificação e perpetuação da insônia.
Nosso organismo tem “relógios” biológicos muito bem regulados. Esse “relógio” tem ciclos de aproximadamente, mas não exatamente, 24 horas, e envolve diversos processos orgânicos, como digestão, temperatura corporal e padrão de sono e de vigília. Mencionar isso é importante para demonstrar que há outros fatores que regulam nosso sono além do óbvio: o Sol.
Pode ser que diante de uma vida sempre corrida, a gente se esqueça de que nosso corpo é regido por um ritmo estável. Muitas vezes tentamos exercer mudança nesse ritmo com café, álcool e outras substâncias. Em geral, acaba dando errado…
Mas por que dormimos?
Dormir é um mecanismo preciso do nosso sistema nervoso central que é regido por muitos fatores. O sono é o processo pelo qual nosso cérebro e nosso corpo restauram seu funcionamento eficiente. Não se trata somente da ausência de vigília.
O nosso sono pode ser classificado em duas fases: o sono Não-REM, que por sua vez tem 3 fases (1, 2 e 3, sendo esta última o que chamamos de sono profundo), e o sono REM (em que a maior parte dos sonhos acontecem). Essa divisão é importante, e será foco de outra edição desta newsletter.
Diante de toda essa complexidade e por dependermos de muitas horas de sono diariamente, é natural que surja o questionamento do porquê nós dormimos.
O sono profundo, por exemplo, é uma ocasião de repouso não somente do nosso sistema nervoso central, mas também de todo o corpo. Isso permite o restauro dos nossos músculos, do nosso sistema imune e homeostase de neurotransmissores, elementos da química cerebral muito importantes para regulação emocional e de apetite.
O sono é fundamental para a consolidação de diversos tipos de memória, inclusive a memória dos fatos cotidianos, do aprendizado de novas tarefas e do processamento das nossas emoções.
Podemos dominar nosso sono?
Não! O sono não é um processo voluntário. Em outras palavras, não podemos simplesmente decidir dormir quando quisermos. Em vez disso, o sono é controlado por uma série de fatores, que serão o foco de outra edição desta newsletter.
O fato é que nós vivemos em um mundo com ritmo. A evidência para isso está ao nosso redor. A noite vem após o dia sucessivamente, temos 4 estações no ano, algumas flores se fecham a noite e se abrem durante o dia, frutas que consumimos tem “época” e algumas aves migram uma ou duas vezes no ano.
Como o mundo físico, nossos corpos também têm ritmos. Esses ritmos são internos ou “endógenos”. Em outras palavras, nossos ritmos são parte da função normal de nossos genes, células e órgãos. Os ritmos do nosso corpo geralmente estão sincronizados com os ritmos do mundo, mas permanecer sincronizado requer bons hábitos de sono e vigília.
A verdade é que o nosso cérebro é como um condutor e ele tem o desafio de manter sincronizados dezenas de milhares de relógios diferentes em nosso corpo.
O que precisamos é aprender a lidar com esses ritmos sem termos a pretensão de dominá-los. Nunca teremos controle completo sobre nossos ritmos biológicos, mas com sabedoria e organização, podemos regulá-los e obter deles muita saúde!
Não é possível estar disposto a enfrentar estresse cotidiano sem que se tenha dormido uma boa noite de sono. E, assim como atividade física regular e uma alimentação saudável, dormir bem também tem relação com a prevenção de transtornos mentais.
E o mais importante é que você pode aprender a dormir bem. Esse é o tema desta série de edições desta newsletter!
© 2023 Pedro Rosa | Todos os diretos reservados | Política de Privacidade